O homem das multidões e a cidade fora de foco
José Geraldo Couto
01.08.14
Inspirado em Edgar Allan Poe, filme de Cao Guimarães e Marcelo Gomes muda perfil do protagonista do conto em que é baseado: em vez de procurar a multidão com avidez, ele parece agir por inércia, com uma serenidade passiva. É como somos hoje, deixando-nos levar pela massa anônima. Opção por registrar as cenas em quadros verticais sublinha a dificuldade do personagens em estabelecer relações.
Festa no cemitério
José Geraldo Couto
25.07.14
Apesar de momentos insólitos, o Festival de Paulínia voltou com toda força. O destaque dos primeiros dias é Sinfonia da necrópole, estreia solo da diretora Juliana Rojas e um passo à frente no trabalho coletivo da produtora paulistana Filmes do Caixote com os gêneros cinematográficos estabelecidos. A história realiza um jogo de contrastes que aproxima o macabro do cômico e do poético.
A deliciosa despedida de Resnais
José Geraldo Couto
21.07.14
Em Amar, beber e cantar, Alain Resnais mostra total despreocupação com o naturalismo e a verossimilhança, isto numa época em que o cinema parece ter perdido a capacidade de inventar e sonhar. Poucos diretores terão se despedido do cinema e da vida com um filme tão leve, delicioso, encantador.
Fritz Lang, o implacável
José Geraldo Couto
11.07.14
O CCBB de São Paulo exibe até 24 de agosto retrospectiva completa da obra de Fritz Lang, com os 41 filmes que ele realizou na Alemanha e nos Estados Unidos - e a mesma mostra ocorrerá em Brasília e no Rio. O que unifica essa filmografia tão variada, que vai da saga mitológica à ficção científica, do policial ao faroeste, da aventura exótica ao drama moral, é uma visão sombria do mundo, fundada na convicção de que o mal está em toda parte.
Literatura, sexo e crime num filme francês
José Geraldo Couto
04.07.14
O amor é um crime perfeito, dos irmãos Arnaud e Jean-Marie Larrieu, justifica a frase de Godard de que, para se fazer um bom filme, basta uma arma e uma mulher bonita. Talvez este não seja propriamente um bom filme, mas é uma interessante atualização da combinação entre literatura, erotismo e crime que caracteriza uma prolífica vertente do cinema francês.
Amazônia ou A dramaturgia da fauna
José Geraldo Couto
27.06.14
Com argumento semelhante ao de Rio 2, coprodução franco-brasileira consegue uma narrativa envolvente a partir de dados reais da floresta, graças à experiência do diretor Thierry Ragobert em documentários sobre a natureza. O resultado é esteticamente interessante, mas pode exigir demais do público infantil, ao qual parece se destinar.
As cabeças cortadas de Sergio Bianchi
José Geraldo Couto
20.06.14
Sergio Bianchi usa em novo filme cenas de seu primeiro longa-metragem e reforça a ideia expressa em título de outro: o Brasil é "cronicamente inviável". Entre os temas de Jogo das decapitações estão o oportunismo político de militantes encastelados em ONGs ou na política institucional; e a barbárie que caracteriza desde sempre nossa formação social.
A melancolia autoirônica de “Avanti popolo”
José Geraldo Couto
16.06.14
Avanti popolo, de Michael Wharman, trata da morte das utopias na figura de um quarentão que retorna à casa do pai (interpretado por Carlos Reichenbach em participação cheia de significados) em busca em memórias do irmão, um dos desaparecidos da ditadura militar. Entre velharias tecnológicas e ideológicas como filmes de super-8 e hinos revolucionários, o protagonista procura dar sentido à história da família.
Como nascem os monstros
José Geraldo Couto
06.06.14
O lobo atrás da porta, do estreante Fernando Coimbra, é um suspense sem fórmulas fáceis que apresenta uma leitura pertinente da realidade brasileira atual. Com Fabiula Nascimento e Leandra Leal, o filme não tem vilões. Em vez disso, mostra o quão terrível é pensar que pessoas normais sejam capazes de atos monstruosos.
Caminho para o nada, janelas para o abismo
José Geraldo Couto
30.05.14
Poucas vezes o cinema se desnudou tão plenamente quanto neste longa de Monte Hellman, que chega a DVD três anos após ter passado praticamente despercebido no circuito comercial. O diretor norte-americano faz um filme dentro de um filme e, a todo momento, puxa o tapete das certezas debaixo dos pés do espectador.
