Boyhood não coube no Oscar
José Geraldo Couto
23.02.15
Falou-se muito do inusitado modo de produção de Boyhood, de sua realização ao longo de doze anos, mas falou-se pouco do resultado, da narrativa que vemos na tela. E esta é extraordinária. Por isso é um filme que não cabe no Oscar, festa da repetição do mesmo sob a ocasional maquiagem da “novidade”. Birdman ganhou reinventando, quase sete décadas depois, a roda de Festim diabólico, de Hitchcock.
Sniper, Velho Oeste no Oriente Médio
José Geraldo Couto
20.02.15
Quem acompanha a carreira de realizador de Clint Eastwood sabe que, pelo menos desde Os imperdoáveis (1992), ele vem problematizando certos valores centrais da cultura americana e, em particular, a figura do herói justiceiro. Seu novo filme é um passo adiante nesse processo. Não se trata de um épico, mas de um réquiem.
Cássia Eller: flor e espinho
José Geraldo Couto
13.02.15
É impossível assistir ao documentário de Paulo Henrique Fontenelle sobre Cássia Eller e não se apaixonar por ela. Não porque o filme apare arestas e a santifique, como fazem tantos outros do gênero, nem tampouco porque a “explique”. O mérito de Cássia Eller consiste justamente no oposto: apresentar a personagem como pedra bruta, multifacetada. Enigma que não se decifra.
Dois dias, uma noite – uma caminhada resume o mundo
José Geraldo Couto
06.02.15
O cinema mais político que se faz hoje no mundo talvez seja o dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, embora seus filmes se passem no plano miúdo do cotidiano de pessoas comuns. Dois dias, uma noite é prova disso: narra o esforço de uma operária para manter seu emprego numa pequena fábrica, combinando um realismo áspero e uma elevada espiritualidade, e tratando de política para além da conjuntura imediata.
O lugar do artista em “Birdman” e “Grandes olhos”
José Geraldo Couto
30.01.15
Há filmes que parecem melhores do que efetivamente são e outros que são melhores do que parecem ser. Grandes olhos, de Tim Burton, está no segundo caso, e Birdman, de Alejandro Iñárritu, no primeiro. Sei que muitos discordarão, e terão como argumento a penca de indicações de Birdman ao Oscar. Ossos do ofício.
Copacabana em transe, Recife em ebulição
José Geraldo Couto
23.01.15
Está em cartaz o pernambucano Amor, plástico e barulho e saiu em DVD Copacabana mon amour, realizado por Rogério Sganzerla em 1970. Apesar das muitas diferenças, os filmes têm em comum um corajoso corpo a corpo com a chamada “realidade social” de uma geografia específica: o de Sganzerla com uma Copacabana fervilhante de contradições; o de Renata Pinheiro com a “cena brega” da periferia de Recife.
Rússia, Japão e Bahia em três grandes filmes
José Geraldo Couto
16.01.15
Três belíssimos filmes estão entrando em cartaz: o japonês O segredo das águas, o russo Leviatã, e o brasileiro Depois da chuva. Leviatã é de densidade humana e política, e grande rigor formal. Depois da chuva é original ao abordar o período do movimento das Diretas, a eleição indireta de Tancredo, e a agonia e morte do presidente eleito.
Acima das nuvens, o mundo em movimento
José Geraldo Couto
09.01.15
O ano cinéfilo começa muito bem com Acima das nuvens, de Olivier Assayas, filme denso de sugestões e significados. A exemplo do que fizera em Horas de verão, o diretor entrelaça à trajetória dos personagens um retrato muito preciso e incisivo dos tempos que vivemos, com destaque para as relações nem sempre pacíficas entre a velha cultura europeia e a voracidade das novas mídias.
Êxodo, história antiga, tragédia atual
José Geraldo Couto
26.12.14
Diante de um filme como Êxodo – Deuses e reis, de Ridley Scott, não faz sentido verificar se ele é “fiel” ao texto original. Mais interessante é discutir como ele se relaciona com duas outras realidades: a tradição hollywoodiana (a grandiosidade superproduções de Cecil B. DeMille) e a nossa época atual, com paralelos à história contemporânea de Israel e da crise do Oriente Médio.
A noite da virada e a crise da comédia
José Geraldo Couto
19.12.14
Existe salvação para a comédia brasileira? Há caminhos a trilhar que não desemboquem no beco sem saída das globochanchadas imbecilizantes? A noite da virada, longa de estreia de Fábio Mendonça, me proporcionou mais riso que irritação, o que já é muito no atual contexto.
