Coutinho e a poética do encontro
José Geraldo Couto
08.05.15
Eduardo Coutinho, morto de forma trágica há pouco mais de um ano, não terminou de dizer o que tinha a dizer. Suas últimas palavras estão em Últimas conversas, concebido para ser um diálogo com múltiplos rapazes e moças no final da adolescência. Coutinho conseguiu o milagre de furar o bloqueio de jovens que chegam diante da câmera maquiados, preparados.
Dólares, areia, Geraldine e Abujamra
José Geraldo Couto
01.05.15
Dólares de areia é um corpo estranho no aviltado circuito exibidor brasileiro. Dirigido pelo mexicano Israel Cárdenas e pela dominicana Laura Amelia Guzmán, é uma coprodução entre os dois países e trata justamente de trocas e entrechoques culturais, sociais, geracionais. No fundo, é também um filme sobre corpos estranhos: estranhos uns aos outros e estranhos a um público habituado ao padrão biotípico hollywoodiano.
O que há de novo no Cinema Novo?
José Geraldo Couto
24.04.15
Começa na próxima quarta-feira (29 de abril) na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, uma grande retrospectiva do Cinema Novo. É uma boa oportunidade para separar o trigo do joio e fazer uma avaliação mais equilibrada da real importância dessa produção nada uniforme. Alguns filmes envelheceram mal, outros – como Os cafajestes, O padre e a moça, Terra em transe e São Bernardo – seguem vivos, dolorosos, cortantes.
Além dos muros da Casa grande
José Geraldo Couto
17.04.15
Casa grande é um filme amplo, cheio de subdivisões, detalhes, esconderijos, portas, janelas e desvãos – exatamente como o edifício da elite carioca que lhe serve de título. É com uma observação arguta dos detalhes que se desenvolve o primeiro longa-metragem de ficção de Fellipe Barbosa, que tem sido comparado pela imprensa estrangeira a O som ao redor.
A Hollywood de Cronenberg, entre a cartografia e o bestiário
José Geraldo Couto
10.04.15
Cronenberg sempre se interessou pela anomalia, pela disfunção, pela doença, não tanto “como metáfora”, mas como fato essencial da vida contemporânea. Mapas para as estrelas transfere essa sua preocupação – para não dizer fascínio – ao coração da indústria do cinema. A Hollywood que surge nesse retrato cruel é um concentrado de distúrbios que interagem uns sobre os outros numa espiral quase apocalíptica.
O cinema visceral de John Cassavetes
José Geraldo Couto
02.04.15
Quatro filmes de John Cassavetes (1929-89), que frequentemente recebe a definição enganosa de "pai do cinema independente", chegam em DVD ao Brasil e ajudam a conhecer melhor esse cinema fundado na liberdade e no risco. Quando se toma como parâmetro o cinema de ficção que hoje predomina, todo engessado por convenções narrativas, clichês sociais e psicológicos, os filmes de Cassavetes chocam por sua despudorada liberdade: liberdade temática, de construção, de mise-en-scène, de atuação.
Faltou sal a O sal da terra
José Geraldo Couto
27.03.15
O documentário sobre Sebastião Salgado assinado por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado (filho do fotógrafo) é, no mínimo, frustrante. Todo documentário centrado num personagem, se não quiser ser um mero registro chapa-branca, deve buscar contradições, tensões. Em O sal da terra, os diretores apenas seguram a câmera para o fotógrafo construir diante dela sua autoimagem edificante.
Branco sai, preto fica – o filme do ano
José Geraldo Couto
20.03.15
Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós, é um filme extraordinário na acepção plena da palavra: você não encontrará algo parecido em nenhuma cinematografia. Mais do que borrar a fronteira entre documentário e ficção, o longa a subverte “a partir de dentro”, ao expor o que há de ficção no que chamamos de realidade e o que há de realidade na mais desvairada fabulação.
Alice no país do Alzheimer
José Geraldo Couto
13.03.15
Julianne Moore é, de fato, extraordinária. Para sempre Alice, nem tanto. O filme descreve de modo convincente o processo terrível do mal de Alzheimer, mas sem aprofundar e desenvolver suas várias possibilidades, mantendo-se nos limites rasos do melodrama familiar. Ao contrário de Amor, de Michael Haneke, aqui tudo conflui para a mensagem edificante do amor como bálsamo, quase como “cura”.
O cinema libertário de Buñuel
José Geraldo Couto
02.03.15
A partir de 3 de março, os paulistanos têm a chance de conhecer as múltiplas faces de Luis Buñuel na mostra dedicada ao diretor no Sesc. Sua obra deixa envergonhada quase a totalidade do que vemos hoje nas telas do mundo. Para Bergman, ele foi um dos maiores; para Fellini, simplesmente “o” maior. Outra retrospectiva interessante em São Paulo é a de Jerry Lewis.
