No cinema

Polanski e o terror do feminino

José Geraldo Couto

02.10.15

Se a linha mestra do cinema de Roman Polanski são as relações de sexo e poder, A pele de Vênus pode ser visto como uma espécie de suma de sua obra. Não é, por certo, seu melhor filme, mas talvez seja o que condensa de forma mais clara e concisa suas principais preocupações.

Big Jato, Quintal e Tolstói

José Geraldo Couto

25.09.15

Os dois grandes vencedores do recém-encerrado Festival de Brasília, o longa-metragem pernambucano Big Jato e o curta mineiro Quintal, a despeito de tudo o que os diferencia, têm algo em comum. São, cada um à sua maneira, atualizações da célebre frase atribuída a Tolstói: “Quer ser universal? Comece pintando a sua aldeia”.

Love, ponto de atrito entre amor e sexo

José Geraldo Couto

18.09.15

É possível falar de amor nos dias de hoje sem cair na pieguice ou na autoajuda? É possível filmar o sexo sem resvalar na crueza vulgar ou, no extremo oposto, na estetização publicitária dos “50 tons de cinza”? Gaspar Noé resolveu pegar esses dois touros à unha, ao mesmo tempo. Mas seu filme acaba por suscitar uma outra pergunta: é possível ver nos dias de hoje um filme de amor e sexo sem tentar enquadrá-lo nos parâmetros estreitos e desfocados de meio século atrás?

Jia Zhang-ke e a poética dos escombros

José Geraldo Couto

11.09.15

Jia Zhang-ke, um homem de Fenyang, de Walter Salles, acompanha o cineasta chinês em uma visita aos lugares de sua infância e juventude e às locações de seus principais trabalhos. Dessa jornada emerge um retrato dos bastidores de um cinema que expressa as transformações da China nas últimas décadas e o efeito desse processo nos corações e mentes dos indivíduos que o vivem, evidenciando a interação do artista com seu país, sua cultura, seu tempo.

Raskolnikov vai à universidade

José Geraldo Couto

04.09.15

Matar alguém pode ser justificável em certas circunstâncias? Sempre que se quer, modernamente, discutir a moralidade do homicídio, o fantasma de Raskolnikov volta a rondar. O projeto estético de Woody Allen, na vertente expressa em seu novo filme, Homem irracional, parece ser a ambição, obviamente inalcançável, de conciliar a densidade de Dostoiévski com a leveza (enganosa, claro) de Tchekov.

Que horas ela volta?, a arquitetura como drama

José Geraldo Couto

28.08.15

Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, tem tudo para se tornar um marco no cinema brasileiro contemporâneo, como foram, em outros contextos, Central do Brasil e Cidade de Deus. Encara com originalidade e coragem um momento de transformações sociais mais ou menos profundas, mais ou menos traumáticas – e, por favor, não estamos falando aqui de disputas partidárias ou programas imediatos de governo ou de oposição.

Cine drive-in, onde trafega o imaginário

José Geraldo Couto

21.08.15

Um cinema drive-in é o lugar onde se encontram dois prodígios tecnológicos poderosos, duas paixões coletivas, dois signos centrais do imaginário do século XX: o cinema e o automóvel. Fica em Brasília aquele que, segundo consta, é último local desse tipo ainda em atividade na América Latina. Um filme com esse ponto de partida poderia descambar para o mero réquiem nostálgico ou para uma afetada colcha de referências cinematográficas “espertas”. Iberê Carvalho evita esses dois extremos.

O “filme europeu” de Jorge Furtado

José Geraldo Couto

07.08.15

Real beleza, novo filme de Jorge Furtado, "se tinge de uma melancolia serena, quase exangue, muito distante da vivacidade travessa da filmografia anterior do cineasta, seja no cinema ou na TV, no documentário ou na ficção. Não deixa de ser um gesto de coragem essa virada, esse abandono da chamada “zona de conforto” de uma obra estabelecida e reconhecida".

Cosme e a memória cinematográfica do mundo

José Geraldo Couto

31.07.15

Cosme Alves Netto (1937-96), retratado em Tudo por amor ao cinema, de Aurelio Michiles, foi durante décadas o responsável pela Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro. Sua importância no setor só pode ser comparada à do crítico Paulo Emilio Salles Gomes. A trajetória fascinante dessa generosa figura humana é evocada vividamente por meio de um rico material de arquivo e de depoimentos de gente que conviveu com o biografado. Mais que isso: são os próprios filmes que dão vida à história de Cosme.

Campo de jogo – o futebol entre a poeira e o mito

José Geraldo Couto

24.07.15

“A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana”, escreveu celebremente Nelson Rodrigues. De certo modo, Campo de jogo, de Eryk Rocha, é a perfeita tradução dessa ideia em cinema. Trata-se de um ensaio poético em torno do campeonato de favelas do Rio de Janeiro. Longe dos holofotes, dos milhões de dólares da publicidade, o certame das favelas, na ótica de Eryk Rocha, devolve o futebol a seus fundamentos lúdicos, dramáticos e estéticos.