Cinema

Vampiros, zumbis e canibais

Alexandre Matias e Heloisa Lupinacci

20.04.12

Pode ser que este primeiro ato de antropofagia brasileira transformado em espetáculo midiático (esqueça o Bispo Sardinha, que teria virado banquete dos Caetés na mesma região de Pernambuco, vejam só) anuncie a vinda de um novo monstro ao imaginário: o canibal brasileiro pode estar a caminho de ocupar o mesmo holofote que antes foi do vampiro europeu e agora está no zumbi norte-americano.

Quatro cabeças autolimpantes

Antônio Xerxenesky

09.04.12

Por que Hal Hartley foi esquecido? Por que o sujeito que foi um dos inventores do cinema independente americano, ao lado de Quentin Tarantino, Kevin Smith e Richard Linklater não tem o mesmo prestígio? Seria por causa da artificialidade teatral de seus filmes? 

New York, New York

José Carlos Avellar

04.04.12

Para contar uma história de não-ditos, de paixões recalcadas, Shame mostra apenas que esconde a história de seus personagens. Desenquadra. Conta o avesso. Recorre ao fora de quadro como uma máscara, sombra, rastro que não somente remete ao reprimido, mas o revela como ele essencialmente é.

Suspense gourmet

Ieda Marcondes

21.03.12

Hitchcock nos mostra que não é de hoje que as fronteiras entre o cinema e a televisão vêm se estreitando, ao ponto de quase perdermos de vista a divisão que os separa. Na série, é claro, os episódios são mais curtos, possuem uma duração de mais ou menos vinte e cinco minutos (em 1962, o programa seria rebatizado para "The Alfred Hitchcock Hour" e os episódios passariam a ter uma hora cada), as situações são mais simples, não há tanta experimentação técnica como, por exemplo, as sequências feitas em animação de Um corpo que cai, mas o impacto das tramas não deixa de ser o mesmo de alguns dos melhores exemplos de sua cinematografia.

Fellini, editor da Vogue

Equipe IMS

14.03.12

Enquanto o IMS-RJ exibe a exposição Tutto Fellini, com fotografias raras e documentos inéditos de Federico Fellini, além de uma mostra de filmes do cineasta italiano, o Blog do IMS preparou uma seleção de imagens da edição histórica da revista Vogue que contou com Fellini como editor convidado.

As duas expressões de Clint

José Carlos Avellar

11.01.12

Exagerar às avessas: a expressão que o ator Clint Eastwood usou certa vez para definir seu trabalho em Por um punhado de dólares talvez possa ser tomada para definir também o trabalho do diretor Clint Eastwood. A brincadeira irônica de Sergio Leone - para ele, Clint era um ator de duas expressões, uma com e outra sem chapéu - talvez possa se estender ao gesto essencial da câmera dos filmes de Eastwood.

O que devemos aos gregos

José Carlos Avellar

08.11.11

Primeira das três tragédias filmadas por Cacoyannis - as outras duas foram As troianas (1971) e Ifigênia (1977) -, Electra propõe uma imagem fiel a sua origem teatral. Trabalha o quadro e a movimentação dos intérpretes dentro dele num estilo próximo àquele adotado por Eisenstein na metade da década de 1940 em Ivan, o terrível. As filmagens foram feitas em cenários naturais, mas não registram a paisagem e as pessoas diante da objetiva, de acordo com a prática neorrealista então dominante; ao contrário, transforma, deforma.

Queixas e reclamações

José Carlos Avellar

24.10.11

Certa manhã de Cannes, a caminho do palácio do festival para ver o sessão das oito e meia da manhã, Leon passou por Luis Buñuel, que saía do hotel para caminhar ao longo da praia. Desistiu do filme, apresentou-se a Buñuel, perguntou se poderia caminhar ao lado dele e seguiram jogando conversa fora pela Croisette. Caminhada longa, Leon não viu o filme das oito e meia nem o das onze da manhã. Quando nos encontramos, no meio da tarde, na sala de imprensa do festival, trazia um sorriso enorme - quer dizer: o sorriso enorme de Leon era tão encolhido quanto sua voz - mais que contente com o passeio com Buñuel.

A linguagem do cinema

Geraldo Sarno

02.09.11

Uma nova proposta de linguagem cinematográfica paira sobre nosso cinema. Em Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, São Paulo e Bahia, uma nova geração de cineastas rompe com as formas construídas desde o início dos anos 60, rompe com as formas estabelecidas pela mídia a reboque de Hollywood e inaugura uma nova maneira de articular a linguagem cinematográfica. Creio que seu objetivo central é fazer o cinema pensar, fazer do cinema uma linguagem que pensa. Uma arte do pensar.

Ulisses: efeito terapêutico – por Eduardo Escorel

Eduardo Escorel

02.09.11

Ao voltar à União Soviética em 1932, as críticas a Outubro e A linha geral (O velho e o novo) haviam se transformado em acusações abertas de "formalismo" - equivalentes, na época, a uma condenação ao ostracismo. Eisenstein estava frustrado e desiludido (...). A leitura de Ulisses, feita quatro anos antes, quando estava convalescendo no Cáucaso, e o encontro com James Joyce no início de 1930, em Paris, não haviam sido esquecidos e passaram a ser referências constantes em seus escritos nos anos seguintes.