O futuro no passado
José Geraldo Couto
21.07.11
A primeira rede de computadores da Folha não era muito confiável. Dizia-se que era de fabricação paraguaia. Não tenho certeza disso, mas sei que a todo momento as matérias sumiam das telas, perdiam-se dias inteiros de trabalho, era um deus nos acuda na redação. Lembro-me nitidamente de uma noite em que, próximo do horário de fechamento do jornal, o sistema deu pau. Simplesmente parou, como um carro que "morre" por falta de bateria. Uma cena para não esquecer: o diretor do jornal, Otavio Frias Filho, e os dois secretários de redação, parados em silêncio, perplexos e expectantes, diante do terminal inerte da primeira página.
A literatura e o indizível
José Geraldo Couto
14.07.11
Estou pensando em Graciliano Ramos e seu Fabiano, de Vidas secas. Ou em Clarice e sua Macabéa, em Guimarães Rosa e seu Riobaldo, em J. M. Coetzee e seu Michael K. Veja que são autores muito diversos entre si, mas que tentam de um modo quase desesperado uma ponte de linguagem com esse outro afásico, impenetrável. Você de certo modo fez isso num conto como "Um discurso sobre o método", não é verdade?
A dívida com os clássicos
José Geraldo Couto
07.07.11
Tenho muitos amigos que torcem o nariz para o Woody Allen, acusando-o de pseudointelectualismo ou mesmo de anti-intelectualismo. Penso diferente. A meu ver, ele brinca, por um lado, com o pedantismo acadêmico, e por outro com a superficialidade intelectual de nossa época, mas ao mesmo tempo sabendo que trabalha com um meio de expressão também ligeiro e superficial, que é o cinema narrativo americano.
A solidão do goleiro
José Geraldo Couto
30.06.11
O goleiro tem também, comparativamente, algo de feminino, não só pelo uso hábil das mãos, mas pelo fato de ter de "cuidar da casa", defendendo a inviolabilidade do lar enquanto os homens (os jogadores de linha) saem para a guerra, para a lida da vida. Claro que isso nada tem a ver com a sexualidade dos arqueiros, muitos deles grandes mulherengos, às vezes até demais, como sabemos.
