José Geraldo Couto

Sócrates, o futebol, o cinema

José Geraldo Couto

05.12.11

Atendendo a pedidos, escrevo algumas palavras sobre Sócrates, morto ontem (domingo) aos 57 anos. Quebrei a cabeça buscando um modo de conciliar o craque com o assunto deste espaço, o cinema. O fato é que poucas figuras do mundo futebolístico são tão "cinematográficas" quando Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, jogador de futebol, médico, ativista político e boêmio

O cinema falado de Martin Scorsese

José Geraldo Couto

28.11.11

O filme de hoje é um livro, mas um livro que contém muitos filmes: Conversas com Martin Scorsese (Cosac Naify/Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tradução de José Rubens Siqueira). É um catatau de mais de 500 páginas de entrevistas do diretor ao crítico e também cineasta Richard Schickel. Amigos há décadas, profundos conhecedores do cinema americano e de sua história, os dois passam em revista toda a cinematografia de Scorsese, tendo como panos de fundo a biografia do diretor e as transformações atravessadas pelo cinema nos últimos cinquenta anos. Vale por um curso.

Roteiro? Pra que roteiro?

José Geraldo Couto

18.11.11

"O problema brasileiro é a falta de bons roteiros." Quantas vezes você ouviu essa frase? A formulação tem décadas de existência, mas de quando em quando é requentada, como quando se faz a inevitável comparação entre filmes argentinos e brasileiros e se chega à conclusão de que a superioridade deles está nos roteiros. É até possível que seja verdade, mas desconfio que se trate de uma falsa questão. Um filme que suscita uma discussão interessante a propósito do tema é o fascinante O céu sobre os ombros, premiado longa de estreia do mineiro Sérgio Borges, que acaba de entrar em cartaz.

Almodóvar, a pele e a alma

José Geraldo Couto

07.11.11

Ao que parece, alguns críticos torceram o nariz para o novo Almodóvar, A pele que habito. Como este é um daqueles casos em que não se pode ficar em cima do muro, vou logo dizendo que adorei. (...) Almodóvar elude as possibilidades burlescas de seu enredo. Ele não fez uma chanchada, fez uma elegia, em que a música sinistra, a predominância do claro-escuro e a atuação constrita de Banderas induzem a um sentimento de luto, de perda irreparável, análogo ao hitchcockiano Um corpo que cai.

Moretti, Herzog: habemus cinema

José Geraldo Couto

01.11.11

Habemus papam, um dos filmes mais empolgantes da mostra de cinema de São Paulo e possivelmente a obra máxima de Nanni Moretti, parte de uma situação paradoxal. Não existe na terra um indivíduo mais cheio de certezas e de autoridade do que o papa, certo? Mas e se um determinado papa, recém-eleito por seus colegas cardeais, sucumbisse à dúvida e à paralisia? Pois é precisamente isso o que ocorre com o cardeal Melville (Michel Piccoli), paralisado de pânico no momento mesmo em que deve aparecer na sacada da basílica de São Pedro e anunciar-se ao mundo como novo pontífice.

A bicicleta, a orfandade, a loucura, a traição: mais filmes da mostra

José Geraldo Couto

27.10.11

No afetuoso documentário dedicado por Martin Scorsese a seu mestre Elia Kazan (que tem vários de seus principais títulos exibidos em retrospectiva da Mostra), aprendemos a ver melhor o cinema do homenageado. Duas de suas obras-primas, em especial, são iluminadas magistralmente pelos comentários de Scorsese: Sindicato de ladrões e Vidas amargas.

Mostra de SP: anotações apressadas

José Geraldo Couto

24.10.11

Um incômodo adicional é certa disparidade entre os atores, ou, mais precisamente, entre Camila Pitanga e os outros. A linda atriz faz um esforço tão grande para ter uma grande atuação que o que acaba mostrando é mais isso mesmo, o esforço, do que um bom resultado. Não poderia ser maior o descompasso de seus clichês televisivos com a performance minimalista de Gustavo Machado e a dicção troante (perfeitamente adequada ao papel) de Zecarlos Machado.

Argentina ou o elogio do outro

José Geraldo Couto

19.10.11

Não é de hoje que o cinema argentino desperta um misto de admiração e ciúme nos realizadores nacionais. Cada vez que um filme argentino cai nas graças do público brasileiro, é possível pressentir em cada um de nossos cineastas, roteiristas e produtores uma pergunta não formulada: o que eles têm que nós não temos? Cada êxito do país vizinho nos chega como um ovo de Colombo. "Puxa, mas parece tão simples: por que não pensamos nisso antes?"

Leon, Leon, Leon

José Geraldo Couto

14.10.11

Conheci Leon há uns vinte anos, cobrindo para a Folha de S. Paulo a Mostra Internacional de Cinema de que ele, mais do que fundador e diretor, era a encarnação. Mas Leon já fazia parte importante da minha vida muito antes disso, pois graças a ele eu tinha visto filmes desconcertantes como Malpertuis, fascinantes como Kaspar Hauser ou esmagadores como Saló. Tarkowski, Oshima, Paradjanov, Jarmusch, Ming-Liang, entre tantos outros nomes sonoros e exóticos, entraram no meu repertório (...) graças a esse sírio-armênio-brasileiro que unia como poucos a faculdade de sonhar e a tenacidade para transformar os sonhos em realidade.

Copacabana me engana

José Geraldo Couto

11.10.11

Quem resiste a ver um filme chamado Copacabana e estrelado por Isabelle Huppert? Em todo caso, eu não resisti. O filme de Marc Fitoussi pode ser definido como uma agradável crônica de costumes sobre Babou (Huppert), uma francesa de meia-idade em permanente desajuste com a sociedade capitalista globalizada. A história se passa no norte da França e no balneário de Ostende, na Bélgica. E onde entra a Copacabana do título?