Amor e morte segundo Haneke
José Geraldo Couto
18.01.13
No pequeno teatro de Amour se desenrola a mais universal das tragédias, a erosão da carne e do intelecto, a condição finita e frágil da vida. À diferença dos melodramas vulgares, Haneke não enfrenta essa barra alternando agradavelmente momentos de drama e humor, de violência e ternura. É tudo ao mesmo tempo, somado, entretecido, depurado.
Exorcismo do século XXI
José Geraldo Couto
11.01.13
Um grande filme entra em cartaz em São Paulo sob o risco de ser esmagado pelos blockbusters infanto-juvenis e pelos "filmes do Oscar". Estou falando de Além das montanhas, do romeno Cristian Mungiu.
O som sutil e a fúria contida
José Geraldo Couto
04.01.13
Entra finalmente em cartaz o filme brasileiro mais incensado dos últimos anos, O som ao redor. Todo esse auê se justifica. É um filme que, como poucos, radiografa sua época sem perder de vista o processo histórico de longa duração em que ela se insere.
A alegria de dizer “não”
José Geraldo Couto
28.12.12
O que há de mais interessante em No, de Pablo Larraín, é seu caráter ambivalente, tanto em termos políticos como estéticos. Há, por um lado, um aspecto bastante convencional no filme, que é o de sobrepor a trajetória do herói individual às contingências da história. Por outro lado, é uma obra politicamente fecunda por escancarar um processo que vem se espalhando pelo mundo afora nas últimas décadas, a saber: o esvaziamento da discussão política, substituída pelo primado do marketing.
Pi, o filme líquido de Ang Lee
José Geraldo Couto
21.12.12
As aventuras de Pi é uma fábula sem moral, ou antes, uma fábula cuja moral é simplesmente a necessidade que temos de acreditar na ficção como meio de enfrentar a dureza e a opacidade do real. Contra essa dureza e essa opacidade, Ang Lee fez um filme líquido e translúcido.
Antes que o mundo acabe
José Geraldo Couto
14.12.12
O mundo pode não acabar, mas o fim do ano está logo ali, e com ele começam a pipocar as retrospectivas, balanços, votações e listas dos melhores da temporada. Foi um bom ano para o cinema? Depende do ponto de vista e dos critérios adotados. Se o parâmetro for o surgimento de bons filmes, nacionais e estrangeiros, é possível dizer que sim, 2012 foi animador.
Holy motors e a ficção radical
José Geraldo Couto
07.12.12
O sentimento que Holy Motors provoca em quem ama o cinema é nada menos do que júbilo. Tenho amigos que, em uma semana, já viram o filme três vezes. Não é para menos. Numa arte que tem sido tão amesquinhada e banalizada, é revigorante ver uma aposta radical assim nos poderes libertários da invenção e da fantasia.
Os penetras, ou a malandragem atualizada
José Geraldo Couto
30.11.12
Alguns críticos brasileiros, aparentemente acometidos por um estranho e perigoso automatismo, apressaram-se em relegar Os penetras, de Andrucha Waddington, à vala comum do besteirol, ao lado de coisas como Até que a sorte nos separe e o programa televisivo Zorra total. Eu me pergunto se eles viram o mesmo filme que eu. O que eu vi foi uma saborosa sátira de costumes, uma atualização bastante eficaz de um veio fecundo da nossa cultura: a comédia de malandragem.
O noir essencial de Hawks
José Geraldo Couto
23.11.12
Baseado no intrincado romance policial de Raymond Chandler - mestre, ao lado de Dashiell Hammett, da chamada literatura hardboiled -, À beira do abismo é um marco do cinema noir. Dado o estilo substantivo, direto e sem afetação do cineasta, ele representa uma espécie de quintessência do gênero.
Sudoeste, uma fábula fabulosa
José Geraldo Couto
16.11.12
Sem ter um único plano feio, descuidado ou desnecessário, o longa-metragem de Eduardo Nunes é pródigo em momentos de grande poesia visual. Ele se filia a toda uma família de filmes brasileiros recentes que situam seus personagens num lugar aparentemente parado no tempo.
